quinta-feira, 30 de julho de 2015

ESTUDO DOS FATORES LIMITANTES E DESAFIOS DO CURSO TÉCNICO DE MULTIMEIOS DIDÁTICOS, NA VISÃO DOS TUTORES DO PROFUNCIONÁRIOS/IFNMG

Autora: Rita de Cassia Maia Gusmão1
Autora: Rosevânia Correia Nunes2
Orientador: Marcelo Wendel Ferreira de Oliveira

RESUMO

Diante da realidade que nos foram apresentadas como tutoras da turma B, do curso técnico do programa Profuncionários, no curso em Multimeios Didático do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - Montes Claros/ Polo avançado de Capitão Enéas – MG, identificaremos e discutiremos os desafios encontrados no decorrer do nosso trabalho. Assim, levantaremos discussões sobre o prisma do olhar do tutor/docente diante dos desafios enfrentados pela Ead. Apresentaremos relatos de experiências das pesquisadoras que são os sujeitos dessa pesquisa. Mostrando que a realidade que nos foi apresentada dificultou o alcance de nossos objetivos na interação com os cursistas dentro do processo de ensino aprendizagem. Concluímos assim que muito tem que ser revisto no tocante a infraestrutura nos polos avançados e a valorização do profissional Tutor dentro da Ead.

Palavras-Chave: Educação a Distância, tutor, ensino aprendizagem.


1.     INTRODUÇÃO


Esse trabalho apresenta uma discussão acerca dos estudos dos fatores limitantes e desafios do curso técnico de Multimeios didáticos, na visão dos tutores do Profuncionários/IFNMG, bem como as especificidades encontradas no trabalho com a tutoria em polo Avançado específico da turma B de Capitão Enéas. 

Pretende-se com este tema, traçar caminhos para discutirmos quais os desafios encontrados no trabalho dos tutores do Polo avançado de Capitão Enéas, com a turma B, no curso técnico de Multimeios didáticos do Profuncionários.   Buscamos contextualizar nossa experiência com a perspectiva que nas últimas duas décadas a evolução das tecnologias tem proporcionado grandes oportunidades para o processo de formação profissional. Estamos vivendo em um mundo competitivo, onde as inovações tecnológicas estão inseridas em todas as áreas de nossas vidas. Apropriarmos de tais habilidades e competências tem se tornado essencial.

Nesse contexto da tecnologia na educação, foram elencadas algumas leituras. Dialogaremos com MORAN, 2004. e Litwin (2001), entre outros. E acerca do mediador desse processo de interação. Dialogamos com SCHLOSSER, 2010. Onde apresenta o tutor como importante elo nessa interação com o processo ensino aprendizagem.

Esta pesquisa é justificável por colaborar com a equipe de Gestão na EaD, no sentido de buscar soluções para resolver impasses específicos  que inviabilizam o sucesso dos resultados almejados. Fez se necessário também, discutir o Programa Profuncionários suas propostas e sua implantação na nossa região para que possamos tratar de nossa atuação dentro dessa realidade especifica. 

Os objetivos específicos que buscamos são: Identificar na, literatura, os Fatores limitantes que permeiam a operacionalização dos cursos técnicos a distância, Propor estratégias que poderia contribuir para melhoria do processo ensino aprendizagem na modalidade EaD, Discutir as peculiaridades e entraves que inviabilizam o trabalho adequado da tutoria na EaD, Servir de orientação aos futuros tutores do Profuncionário e por fim, Levantar possíveis medidas de prevenção e combate a evasão dos referidos cursos.

Para tanto, utilizou-se como modelo de pesquisa o estudo de caso, visando proporcionar maior familiaridade com o problema com intenção de torná-lo explícito. Numa primeira etapa buscamos o levantamento bibliográfico, para em seguida traçarmos uma discussão entre a teoria e a prática vivenciada pelos sujeitos da pesquisa. Analisamos o que a teoria tem de consonância com as especificidades do cotidiano.

Em seguida adotamos técnicas de pesquisa qualitativa para a compreensão do proposto nos objetivos deste projeto, por melhor proporcionar a compreensão do nosso objeto de estudo. Relatamos nossas experiências, deixando transparecer nossas impressões, anseios e dificuldades observadas.  Sobre a escolha da técnica qualitativa justificamos, pois se considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa: situações em que os dados estatísticos não são possíveis; situações em que aspectos psicológicos, atitudes, motivações, expectativas, valores, personalidade, etc. precisam ser amplamente conhecidos. (RICHARDSON, p. 39)

A metodologia utilizada foi a bibliográfica, que consta de análise documental, relato de experiências das autoras do artigo. Os resultados apontam um conjunto de fatores que tem se mostrado como desafios, em sua maioria provavelmente ligados à estrutura do curso, aspectos pessoais e da cultura regional em relação a educação á distância. As estratégias propostas buscam ações corretivas e preventivas para evitar a evasão e garantir um melhor desempenho nas futuras turmas do curso ofertado.

O estudo em pauta foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira etapa foi feito  uma  ampla revisão de literatura de diversos autores e obras relacionadas ao tema, para melhor esclarecimento da questão. A segunda etapa da pesquisa teve como foco, os relatos dos tutores presenciais e a distância do curso técnico de multimeiros didáticos do PROFUNCIONÁRIOS realizado pelo IFNMG, na turma B do Polo avançado de Capitão Enéas, no ano de 2013/2014/2015.


 
2. O PROGRAMA PROFUNCIONÁRIOS E A EAD NO IFNMG.


                                              Mapa 1 - Area de abrangência do IFNMG

Em 2004, o Ministério da Educação – MEC, por meio do Departamento de Articulação e Desenvolvimento dos Sistemas de Ensino – Dase, tomou como uma de suas políticas a valorização dos funcionários da educação.
As bases legais do Profuncionário derivam, dos preceitos constitucionais (art. 205 a 214), dos dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/1996, do Decreto nº 5.154/2004, da i nº 12.014, de 6 de agosto de 2009, que consagra os funcionários de escolas, devidamente habilitados e efetivados, como profissionais da educação.


Sendo assim, o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, consoante com a sua missão e compromisso com o desenvolvimento da região e do país, adotam e fortalece a educação a distância como uma das alternativas para potencializar suas ações, no sentido de ampliar o acesso de jovens e adultos à educação profissional.

Para vencer as dificuldades inerentes à região Norte de Minas Gerais, o IFNMG adaptou uma estrutura específica que atendesse às necessidades da região. Esta estrutura engloba, o apoio didático-pedagógico aos alunos, soluções tecnológicas e de logística para tornar viável a oferta dos cursos e o suporte aos alunos da modalidade à distância.

O acompanhamento didático-pedagógico no local é feito por um coordenador, apoiado por tutores presenciais e a distância. O suporte para as atividades à distância é possibilitado por um Ambiente de Ensino e Aprendizagem (AVA). Neste ambiente, é criada uma sala de aula virtual para cada disciplina, contendo o material didático, atividades de fixação e avaliativas, e repositório de arquivos e espaço para visualização das notas. Os cursos são oferecidos em cidades da região, denominadas polos avançados de apoio presencial, cuja responsabilidade de manutenção fica a cargo da prefeitura local.

Segundo Litwin (2001), são desafios permanentes da educação a distância: o sentido político original da oferta, os suportes tecnológicos adequados para o desenvolvimento dos conteúdos, as propostas de ensino e a concepção de aprendizagem e o tratamento adequado aos desafios da ‘distância’ são entre alunos e docentes e entre os próprios alunos. Porém dentre outros, o desafio mais significante continua sendo o seu sentido democratizante, a qualidade da proposta pedagógica de seus materiais e a gestão desses dois conceitos. Sendo assim, atentamos para a importância dos suportes tecnológicos nos polos avançados, visto que as inovações tecnológicas disponíveis facilita a interação com o discente.


Segundo Moran (2004) “Uma das reclamações generalizadas de escolas e universidades é de que os alunos não aguentam mais nossa forma de dar aula. Os alunos reclamam do tédio de ficar ouvindo um professor falando por horas,...”. Isso significa que algo está errado e precisa ser mudado. E as mudanças necessárias conduzem a um repensar nos papéis dos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. As tecnologias funcionando em perfeito estado, neste momento se mostra essencial, inovar também depende de fatores alheios a vontade do tutor.

Nesse contexto, os tutores presenciais e a distância são os maiores responsáveis pela interação do aluno na modalidade de ensino a distância, configurando assim o princípio dos seus desafios diante dessa tarefa de manter o cursista em satisfatória interatividade. “à distância”  “Em parceria com o trabalho do professor em EAD, encontramos a participação de um individuo que facilitará o percurso do aluno nessa metodologia, o tutor” SCHLOSSER, 2010.  

Um dos grandes desafios então seria uma dedicação que muitas vezes não nos é bem valorizada, pois “Para que isso ocorra de fato, é preciso que as instituições reconheçam o valor dos seus tutores, de modo que eles possam dedicar boa parte de seu tempo aos alunos que orientam” (PORCARI, 2013, p.17). Sobre isso discutiremos com detalhes nos relatos das nossas experiências.

2.1. O POLO AVANÇADO



O Polo Avançado de Capitão Enéas, funcionou na Escola municipal Juca da Rocha, localizada no bairro Sapé, durante toda a realização do curso técnico de multimeios didáticos. Os plantões ocorriam na Biblioteca Municipal daquela cidade, localizada no centro da cidade.


                               Mapa 2: Cidade de Capitão Enéas

 O município de Capitão Enéas localiza-se na região do Norte de Minas Gerais, a 471 km da capital Belo Horizonte, tendo como municípios limítrofes Montes Claros, São João da Ponte, Francisco Sá e Janaúba, ocupa área de  971,583 km², tem uma população estimada pelo censo IBGE-2014 em 14.986 habitantes, distribuídos em área urbana e rural que abrange dois distritos, Caçarema, a 50 km da sede, Santana da serra, a 42 km, e várias comunidades rurais. A área urbana é dividida em 11 bairros.
A economia no município de Capitão Enéas, baseia-se na agropecuária, indústria (Amil Confecção; Marluvas – Indústria de equipamentos de segurança e a RIMA – Indústria de material cilício), serviços e comércio local; os quais empregam em média 30% da população, melhorando assim a renda familiar.

O município de Capitão Enéas tem como realidade socioeconômica a extrema pobreza, sendo este o seu maior problema social. Há um grande número de famílias referenciadas pelo município que se encontram em situação de vulnerabilidades sociais e risco social decorrente deste fenômeno e o IDH do munícípio se encontra em torno de 0,639. Foi neste contexto que se organizou o Polo Avançado de Capitão Enéas.

2.2. A REALIDADE


É perceptível que todos os polos da região possuem características socioeconômicas bastante semelhantes, por se tratar de uma região com baixos recursos, localizada no polígno da seca. Constatamos através dos dados citados, que as distâncias entre distritos, comunidades rurais e sede supera os 50 Km, que seriam perto, caso as estradas vicinais fossem asfaltadas, mas infelizmente este não é o caso, além de que os meios de transportes municipais são na maioria das vezes bastante precários.

Os computadores são bastante ultrapassados e de número reduzido, apenas 6 computadores eram disponibilizados para o uso da turma, a internet era bastante lenta e costumava cair várias vezes. Assim, garantir o acesso a computadores conectados à internet, com um link minimamente satisfatório e que permita o upload e o download de arquivos, tornou-se um dos principais desafios a ser vencido. Desta forma, somente as atividades off-line ou assíncronas, como fóruns, diário de bordo, wikis e envio de arquivos ficaram disponíveis na sala de aula virtual, pois não requeriam que o aluno realizasse intervenções em tempo real no AVA. Os autores abaixo nos alertam: "Aprender não acontece apenas em sala de aula ou sob a tutela do professor, mas está também ligado a processos tecnológicos mais amplos" (IVO;FERREIRA;NASCIMENTO.p.3).

Analisando o perfil dos cursistas de nossa região ( Norte de Minas), observamos que mais de 90% são mulheres, mais de 40% são casadas(os) ou possui união estável, cerca de 35% não possuem computador, somente menos de 20% declaram não ter dificuldades com o computador, muitos têm dificuldades em frequentar os encontros presenciais por vários motivos como: morar na Zona Rural ou ter aulas e reuniões aos sábados para os que trabalham na educação dentre outros. E ainda, há aqueles que apresentam dificuldades com os temas da educação, pelo simples fato de não trabalharem na educação. Esse perfil não caracteriza total desvantagem, mas pode prejudicar muito o alcance dos objetivos traçados para estes alunos, e não alcançar os objetivos poderá ser de toda a maior desvantagem do curso.

Para que EAD em qualquer contexto tenha o sucesso esperado é necessário que a clientela, ou seja, o aluno tenha um perfil peculiar ao estudante que se propõe protagonista da educação a distância. Assistindo aos vídeos e relendo os texto, fiquei pensando que, a EAD para alguns é algo desafiador, e cabe a nós tutores orientar os nossos alunos para enfrentar estes desafios. É necessário que o aluno desenvolva ou aprimore habilidades e estabeleça rotinas para aprender a aprender com autonomia.

3. Concepção, Estrutura e Metodologia do Curso

O ensino a distância no programa profuncionário/ IFNMG  surgiu em decorrência da necessidade da construção de uma identidade dos funcionários da educação básica através da profissionalização. O profuncionário tem sido muito importante para a promoção de oportunidades para muitas pessoas, devido a facilidade que dispões de romper barreiras como: distância, o difícil acesso e a falta de tempo, o ensino a distância facilita que cada um faça o seu horário de acordo com o tempo que dispõe. O ensino a distância pode ter um papel complementar ou paralelo aos programas do sistema tradicional de ensino. Por vezes, são a única oportunidade de estudos oferecida a adultos engajados na força de trabalho. Porém, é necessário ter autonomia para isso, porque a mesma flexibilidade que é vantagem pode transformar-se em desvantagem para quem não tem hábito de estudo independente, porque estudar pelo ensino à distância requer atributos como: automotivação, organização, colaboração, autonomia, independência, responsabilidade e principalmente disciplina.




3.1. O curso técnico em multimeios didáticos


O curso foi ofertado em 74 municípios, também chamados de polos avançados, os quais eram coordenados pelos polos sede que eram 09 no total. O Polo Avançado Capitão Enéas, era subordinado ao Polo Sede Montes Claros.

“O curso técnico em Multimeios Didáticos é ofertado por meio do Profuncionário, programa que visa a formação dos funcionários de escola, em efetivo exercício, em habilitação compatível com a atividade que exerce na escola. A formação em nível técnico de todos os funcionários é uma condição importante para o desenvolvimento profissional e primoramento no campo do trabalho e, portanto, para a carreira. O Decreto 7.415 de 30 de dezembro de 2010 institui a política nacional de formação dos profissionais da educação básica e dispõe sobre a formação inicial em serviço dos funcionários da escola. Entre seus objetivos fundamentais, está a valorização do trabalho desses profissionais da educação, através da oferta de cursos de formação inicial em nível técnico proporcionados pelo Profuncionário.” – IFNMG 2014.


O objetivo geral do curso é oferecer formação profissional, em nível médio a distância, aos funcionários que atuam nos sistemas de ensino da educação básica pública. O perfil profissional do Técnico em Multimeios Didáticos deverá ser constituído de conhecimentos, saberes, valores e habilidades que o credenciam como educador e gestor dos espaços e ambientes de comunicação e tecnologia na escola. O curso tem duração de 18 meses, com carga horária total de 1200 horas e durante o curso o aluno realiza um estágio supervisionado, com duração de 300 horas, por meio de pesquisas e práticas profissionais integradas à disciplina.


Como o conceito de competência está baseado em três dimensões: conhecimento, habilidade e atitude, compreendemos que é necessário a interação destas três dimensões, para que o funcionário seja também um educador, ou seja um elemento ativo no processo da educação e não apenas um ser invisível ou imperceptível, para isso é necessário desenvolver em nossos cursistas competências e ações como: Sede pelo conhecimento; curiosidade; auto valorização; iniciativa; interação entre colegas; bom relacionamento interpessoal; autoestima; generosidade; iniciativa e outros. Neste curso, destaca-se a importância da tomada de consciência que os funcionários não serão mais apenas apoio, mas educadores. Essa descoberta somente é possível aliando teoria e prática.

3.2. Avaliar para Aprimorar

Os processos avaliativos no decorrer dos cursos integrantes do Profuncionário acontecem continuamente, de forma prazerosa, para que, venha proporcionar uma forte interação (aluno/objetivo proposto) e um aprimoramento no processo de desconstrução e reconstrução dos saberes, que acompanharão os educandos ao longo de sua trajetória profissional como educador cidadão.

No ambiente virtual, várias ferramentas são apresentadas aos alunos, por meio do AVA, o estudante é levado à participar de fóruns, responder questões á respeito dos módulos, expressar sua opinião e superar obstáculos. Todo esse esforço deve ser considerado e avaliado ininterruptamente. O tutor precisa de sensibilidade para perceber a evolução do aluno. A maioria dos cursistas não tinha experiência com as novas tecnologias, muitos deles nunca tinham feito um curso a distância. Além da inclusão social, da construção da identidade profissional, da formação do gestor educador, o Profuncionário tem contribuido amplamente para a inclusão digital dos educadores. Nos encontros presenciais são avaliados os seminários, a participação nos debates, as reflexões e nos plantões incluía a orientação na escrita do memorial.

Os principais instrumentos no processo avaliativo do Profuncionário são: os pratiques, a prática profissional supervisionada (PPS), o memorial construído no decorrer do curso e o relatório final.


É importante lembrar que a avaliação tem também objetivo emancipatório e neste contexto está a PPS, que objetiva levar o aluno do Profuncionário a refletir sobre a prática profissional, sobre a escola e os seus funcionários, sobre os professores e os alunos numa perspectiva multidisciplinar, observando a importância de sua atuação em todo processo educativo. A PPS foi um outro fator que trouxe muitas lutas e alegrias, os alunos reclamavam diziam que não estavam dando conta, ameaçavam desistir, mas sempre voltavam atrás e acabavam apresentandos excelentes resultados.

4. A TUTORIA PRESENCIAL – UM ELO ESSENCIAL

Eu Rosevania Correia Nunes, atuei como tutora presencial da turma B do curso Técnico de Multimeios Didáticos do polo Avançado de Capitão Enéas, nasci em Montes Claros, mas passei a minha infância em Capitão Enéas. Sou licenciada em Biologia pela Universidade Estadual de Montes Claros (1998). Tenho aproximadamente 20 anos de experiência na área de Educação da rede pública Estadual Minas Gerais. atualmente estou atuando como PEUB ( Bibliotecária) na Escola Estadual Antônio Canela.
Minha paixão com ead começou em 2005, quando realizei meu primeiro curso a distância, o Curso de Disseminador de Educação Fiscal, foi um curso maravilhoso, promovido pela Escola de Administração Fazendária (ESAF). Durante o curso fui indicada pela tutora para realizar um curso de Formação de Tutores para Curso Online (130 horas), também pela ESAF (2007), em 2008 realizei um Curso de Capacitação em Educação a Distância IV (120 horas) pela Unimontes, que muito me acrescentou.
A ead tem se revelado um marco no processo de ensino/aprendizagem, no entanto, a necessidade de alguém que realize a mediação entre o aluno e o conhecimento, de forma efetiva é real e necessária. Com a valorização e esclarecimento do papel do tutor presencial, a imagem do aluno solitário em sua relação com o material didático, amplia-se pelos caminhos da interação com o tutor, com outros alunos e com o próprio material.

A tutoria pode ser entendida como uma ação orientadora global, chave para articular a   instrução e o educativo. O sistema tutorial compreende, desta forma, um conjunto de ações educativas que contribuem para desenvolver e potencializar as capacidades básicas dos alunos, orientando-os a obterem crescimento intelectual e autonomia, e para ajudá-los a tomar decisões em vista de seus desempenhos e suas circunstâncias de participação como aluno (Souza et al., 2004).

Como já foi dito antes, o norte de Minas Gerais tem particularidades inerentes às regiões de baixos recursos do país, e isso tem refletido no desenvolvimento dos trabalhos de ead. Este também é um fator a ser considerado, no que se refere ao diferencial do tutor presencial como mediador no processo de aprendizagem, no  que diz respeito à regionalização dos conteúdos, uma vez que ele está inserido no contexto econômico e social do educando e tem a possibilidade de conhecê-los profundamente, trazendo os conteúdos para a sua realidade econômica, social e cultural, realizando assim a ponte entre o conteúdo e a realidade dos educandos.
O Curso do Profuncionário de Técnico em Multimeios Didáticos me realizou ainda mais como tutora, consolidando minhas convicções a respeito desta modalidade de ensino. Os autores apresentados motivaram o meu prazer de atuar como mediadora, na construção de saberes tão necessários a formação do educador. A experiência de tutoria presencial, se apresentou a mim de forma desafiadora, os alunos, principalmente quando estavam iniciando, não tinham o hábito da escrita e da leitura e apresentava muitas dificuldades, principalmente com a informática, muitos alunos demonstravam não terem nenhuma intimidade com o computador o que dificultava bastante, e muitos se sentiam envergonhados por não dominar as tecnologias.
A turma B do curso técnico em multimeios didáticos era bastante heterogênea tanto  tinha pessoas que não sabia nem ligar o computador, como também havia alunos que dominava as tecnologias, além de terem em alguns casos de alunos que possuiam especialização na área de educação, o que enriquecia abundantemente nossas aulas e debates.
Esta turma teve logo de início, algumas dificuldades como troca de tutor, havia outra tutora presencial nesta turma e segundo os alunos esta não tinha perfil para tutoria e após reclamações dos alunos ela resolveu sair da função intentada. Outro fator que ocorreu foi um curso que os professores da rede estadual foram praticamente obrigados a fazer e este coincidia com as aulas do profuncionários, o curso em questão foi o curso do “Pacto Nacional de Alfabetização”. Curso este que as alunas que trabalhavam na rede estadual de ensino não podiam deixar de fazer, isso ocassionou na desistência de mais de 20 alunas logo nas primeiras semanas de curso. Outras alunas alegaram outros motivos e não compareceram em nenhuma aula. Restaram apenas 20 alunos de uma turma de 50. Sendo que, no final concluíram 19 alunos, pois uma aluna por falta de emprego teve que mudar para outra cidade. Por estes motivos, para que o curso prosseguisse não tínhamos outro caminho a não ser motivar estes alunos o tempo todo e tentar fazer o curso o mais atrativo possível, apesar dos recursos limitados. Muitas vezes nos deparamos com o projetor que não funcionava, sala com iluminação inadequada ou com o audio estragado. É neste momento que muitas vezes vimos uma aula bem planejada sucumbir aos modelos arcaicos do ensino.

Inicialmente os cursistas tiveram dificuldades de compreender como deveria ser redigido o memorial, tive que trabalhar com eles, o que era e como deveria ser feito. Algumas alunas só tinham disponibilidade aos domingos  e como não havia neste dia repartição pública aberta, eu as recebia em minha casa. Percebo hoje, que os pequenos sacríficios fizeram toda a diferença nos resultados. A cada dia os progressos iam aparecendo, a correção e as sugestões da tutora a distância em relação aos memoriais foram de grande ajuda para o progresso de cada um, este foi realmente um trabalho de parceria.


Entre muitos obstáculos e improvisos, percebi que a tarefa mais importante que o tutor deve desempenhar é a de motivar o grupo. Não só motivar um aluno, mas a turma toda. O curso por ser a distância pressupõe individualismo, horários auto estipulados, autorreflexão e aprendizagens auto dirigidas. Caso haja por um período o auto isolamento de um aluno, este manifesta desânimo e risco de evadir-se do curso, além de poder ainda contaminar outras pessoas, é neste momento que o tutor precisa usar de paciência e zelo com este aluno para motivá-lo e não permitir o seu distanciamento do grupo.

4.2. A Tutora a distância – A orientação virtual

Eu Rita de Cássia Maia Gusmão tive a minha primeira experiência como tutora a distancia com a turma aqui já mencionada. E confesso que esse foi o meu maior desafio, pois não tinha familiarização com os recursos tecnológicos dos quais são fundamentais nesse trabalho. Mas a dedicação e interesse me levou a superação das dificuldades, no decorrer do trabalho já me encontrava auxiliando colegas no laboratório onde cumpríamos horários. Acredito que os desafios encontrados não somam como negativos, e sim, positivos na nossa formação. SCHLEMMER (2011) nos chamam atenção para uma necessidade nessa nova “sociedade em Rede”, "é necessário que os docentes também estejam emancipados digitalmente, o que demanda processos de formação docente, não somente em nível inicial, mas também no âmbito da educação continuada".
Pude perceber que as limitações no trato com as novas tecnologias não se limitavam a mim. Era notória a inabilidade com as novas tecnologias por parte da maioria dos cursistas, isso dificultava a interação, pois visto que o nosso contato era virtual.
A infraestrutura deficitária mencionada acima pela tutora à distância também foi um grande dificultador. Nesse sentido, as mídias ainda mais utilizadas pelos cursistas eram os materiais impressos, e que muitas vezes foram disponibilizados em atraso, dificultando o cumprimento dos prazos para execução dos trabalhos e participações em fóruns.
Outro ponto importante a ser analisado é a disponibilidade exigida para o trabalho com a tutoria, vejo que realmente é necessário e até podemos extrapolar nas horas estabelecidas, visto que em alguns momentos as demandas de trabalhos exigem. O desafiador é sobreviver apenas com a remuneração disponibilizada para o trabalho. Diante dessa realidade, muitas vezes buscamos o trabalho de tutoria como complementar a outras atividades profissionais.
Diante dessa realidade, nos encontramos sobrecarregados e muitas vezes desmotivados na realização de nossas práticas. É preciso que busquemos superar esse desafio, que perpassa por toda a classe de educadores públicos do País. A valorização do tutor-docente na EaD não pode ser diferente:

Nesta perspectiva, é fundamental que os pesquisadores continuem enveredando pelos caminhos da pesquisa como forma de repensar um modelo de EaD que valorize de fato a atuação dos profissionais  nela envolvidos como elemento essencial para desenvolvimento da aprendizagem, além de caminhar na busca pelo reconhecimento profissional do professor-tutor como sujeito que desenvolve uma ação efetiva de docência nos AVEAS, não  como monitor de tal ação pois esta ação acaba por não se enquadrar nas  necessidades atuais da modalidade. (SILVA, 2011).

Sendo assim encerro meu relato na certeza de que desafios sempre surgirão na nossa jornada e que precisamos nos empenhar a supera-los, pois uma sociedade se faz com anseios em busca de transformações.

Conclusão

Os tutores tendo a função de facilitador do processo no ambiente da EAD é ao mesmo tempo um orientador, Assim trabalha na construção do saber, estruturando, orientando, estimulando e provocando o aluno na construção do seu próprio saber.
Entendemos no final de nossas reflexões que cada um de nós, tutores e alunos, traz bagagens culturais, linguagens, expectativas, etc. A construção de uma verdadeira relação dialógica na tutoria é necessária, uma vez que nosso sucesso está diretamente relacionado à esta interação sutil e pessoal com cada um.
Concluímos que executar todas essas funções e competências se configuram nosso maior desafio, pois sabemos que muitos são desafios e especificidades para serem superados e analisados. Sendo que, a infraestrutura tecnológica, acreditamos ser um dos maiores desafios para o funcionamento dos cursos nos Polos Avançados. Esse desafio compromete tanto o trabalho do tutor à distância quanto do presencial.   
Ainda é preciso que qualquer modalidade de ensino considere o perfil dos cursistas, na busca de uma metodologia apropriada para cada realidade, desde as mídias digitais aos materiais impressos. Percebemos também que a falta de reconhecimento dos tutores como profissionais da educação, possa contribuir para melhor seleção de profissionais mais engajados nessa modalidade de ensino. 
 A tarefa é árdua, mas o resultado conclui-se ser compensadora.

Referências

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LITWIN, Edith (Org.) Educação a distância – temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

MORAN, J. M., Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias.
IN:Anais do 12º Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, in ROMANOWSKI, Joana Paulin et al (Orgs). Conhecimento local e conhecimento universal: Diversidade, mídias e tecnologias na educação. vol 2, Curitiba, Champagnat, 2004, páginas 245-253.

Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Orientações Gerais / 4. ed. atualizada e revisada – Cuiabá: Universidade Federal de
Mato Grosso / Rede e-Tec Brasil, 2012.

PORCARI, Emerson Carneiro. Há relação humana na interação professor-aluno em Educação a Distância? Revista Educação a Distância, Batatais, v. 3, n. 1, p. 9-24, jan./dez. 2013. Disponivel em http://claretianorc.com.br/download?caminho= upload/cms/revista/sumarios/176.pdf&arquivo=sumario1.pdf

RICHARDSON, Roberto Jarry et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

SILVA, José Severino da. O TRABALHO DO PROFESSOR-TUTOR NOS CURSOS A DISTÂNCIA: UM OLHAR SOBRE A REGULAMENTAÇÃO E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE EM ALGUMAS IES PÚBLICAS DE PERNAMBUCO. 2011. Disponível em: www.abed.org.br/congresso2011/cd/184.pdf acessado em 04/07/2015.

SCHLEMMER, Eliane. Políticas e práticas na formação de professores a distância: por uma emancipação digital cidadã. Programa de pós-graduação em educação- UNISINOS. 2011. Disponível em:
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SCHLOSSER, Rejane Leal. A atuação dos tutores nos cursos de educação a distância, Colabor@ - Revista Digital da CVA - Ricesu, ISSN 1519-8529 Volume 6, Número 22, Fevereiro de 2010.


SOUZA, C. A.; SPANHOL, L, F. J.; LIMAS, J. C. O.; CASSOL M . P. Tutoria na Educação a Distância. Disponível em <http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/088-TC-C2.htm>. Acesso em 10 de jun de 2015.

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Texto produzido em 15/06/2015